sexta-feira, janeiro 23, 2009

"Em Bernardim a melancolia mergulha no mais cruciante desespero, raiando pelo desvario de um fatalismo herético, muito diferente da anarquia heróica do lirismo camoneano" - Jorge de Sena


Menina e Moça, Bernardim Ribeiro


Pensa-se que Bernardim Ribeiro terá nascido em 1482 e que a sua vida terá terminado em 1552. Bernardim foi um escritor renascentista do nosso país. Frequentou a corte de Lisboa e colaborou no Cancioneiro Geral com outros tantos poetas lusitanos conhecidos. A sua linguagem foi caracterizada por ser arcaica, antiquíssima, e não erudita, sábia.
Esteve em Itália, onde adquiriu algumas inovações na literatura. Bernardim Ribeiro foi o homem que introduziu em Portugal o bucolismo. Este facto fez dele uma pessoa muito importante.
Os textos de Bernardim demonstram um pensamento pessimista, em volta do amor e da saudade.
Menina e moça, a sua obra mais conhecida, foi editada por três vezes no século XVI. Este seu texto representava vários assuntos da ficção, como a nível da história literária como a nível do conteúdo. Bernardim, a nível da história literária, escrevia sobre os elementos da novela de cavalaria e da sentimental e do romance pastoril. Enquanto que a nível do conteúdo, falava de um lugar de encontro, feminino e lamentoso, da Menina. O autor inicia o seu livro com um monólogo de evocação de deslocação e de mudança de vida. A Menina dirigia-se a uma Senhora, com a qual discutia histórias de amores infelizes. Cujas histórias desses desamores são a acção principal da obra.
A sua obra fala da nostalgia amorosa, desencontros amorosos, e do fatalismo do sofrimento. As constantes semânticas são a distância, a natureza, a mudança e o amor. Bernardim Ribeiro foi o primeiro escritor a deixar as convenções da ficção e assumir o estatuto de narrativa feminina da saudade e da solidão. Também neste livro, Bernardim enumera a análise penetrante e cautelosa do sentimento amoroso, no seu aspecto de entrega dedicada e dolorida.

“Menina e moça me levaram de casa de meu pai para longes terras; qual fosse então a causa daquela minha levada, era pequena, não na soube. Agora nao lhe ponha outra, senão que já então parece havia de ser o que depois foi. Vivi ali tanto tempo quanto foi necessário para não poder viver em outra parte. Muito contente fui eu naquela terra; mas coitada de mim, que em breve espaço se mudou tudo aquilo que longo tempo buscou e para longo tempo buscava. Grande desaventura foi a que me fez ser triste, ou que pela ventura me fez ser leda. Mas depois que eu vi tantas cousas trocadas per outros e o prazer feito mágoa maior, a tanta paixão vim, que mais me pesava do bem que tive que do mal que tinha.” - Menina e Moça, inicio